sábado, 25 de fevereiro de 2012

FIGURAS DE CONSTRUÇÃO OU DE SINTAXE






Figuras de Construção ou de Sintaxe



As figuras de construção ou de sintaxe ocorrem quando desejamos atribuir maior expressividade à construção das frases, tornando o texto mais elegante.

Pleonasmo
Consiste na repetição de um termo ou ideia. A finalidade do pleonasmo é realçar a ideia, torná-la mais expressiva. Veja este exemplo:
mim você não me deve nada.

Nesta oração, os termos " mim" e "me" exercem a mesma função sintática: objeto indireto. Assim, temos um pleonasmo do objeto indireto, sendo o pronome "me" classificado como objeto indireto pleonástico.

Você ainda há de chorar lágrimas de saudade.

"Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal." (Fernando Pessoa)

"E rir meu riso." (Vinícius de Moraes)


Observação:
Quando o pleonasmo deixa de ser um recurso de ênfase, torna-se um vício de linguagem. Exemplos:
O elevador está subindo pra cima.( é possível subir pra baixo)
Precisamos refazer o trabalho tudo de novo.( o prefixo –re indica a idéia de repetição.)
Você precisa encarar o problema de frente.( dá para encarar de costas?)
 Elipse
Consiste na omissão de um ou mais termos numa oração. Tais termos podem ser facilmente identificados no  contexto. Exemplos:
Todos foram de avião; eu, de carro( omissão do verbo “fui”)
Estudamos muito para a prova.( omissão do sujeito nós)
 Zeugma
Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita a omissão de um termo já mencionado anteriormente. Exemplos:
Ele gosta de moto; eu, de carro..
Na opinião dela só havia uma solução para o problema; na minha, várias. dois termos subentendidos( opinião e havia)


 Silepse
A silepse é a concordância ideológica, isto é, que se faz com o termo que não vem indicado no texto, mas sim com a ideia que ele representa. Há três tipos de silepse: de gênero, número e pessoa.

 Silepse de Gênero
Os gêneros são masculino e feminino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordância se faz com a ideia que o termo comporta. Exemplos:
1) A grande São Paulo  ficou inundada mais uma vez.
Nesse caso, o adjetivo grande  e inundada não estão concordando com o termo São Paulo, que gramaticalmente pertence ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo (a cidade de São Paulo).

2) Vossa excelência está pronto para a viagem?.
Nesse exemplo, o adjetivo pronto concorda com o sexo da pessoa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Vossa excelência.


Silepse de Número
Os números são singular e plural. A silepse de número ocorre quando o verbo da oração não concorda gramaticalmente com o sujeito da oração, mas com a ideia que nele está contida. Exemplos:
A multidão gritava, a alegria era geral. Agitavam os lenços!
A gente costumava sentar ao pé da paineira para ouvir histórias.Gostávamos muito daquelas tardes.
Note que nos exemplos acima, os verbos agitavam e gostávamos não concordam gramaticalmente com os sujeitos das orações (que se encontram no singular, multidão  e gente, respectivamente), mas com a ideia de pluralidade que neles está contida. Multidão e gente  representam mais de uma pessoa.
Silepse de Pessoa
Temos três  pessoas gramaticais: a primeira, a segunda e a terceira. A silepse de pessoa ocorre quando há um desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não concorda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa embutida no sujeito.
Exemplos:
Os brasileiros não precisamos passar por mais esse vexame.

Os professores  temos orgulho de nosso trabalho.

"Dizem que os cariocas somos pouco dados aos jardins públicos." (Machado de Assis)
Observe que os verbos precisamos, temos e somos não concordam gramaticalmente com os seus sujeitos (brasileiros, professores e cariocas que estão na terceira pessoa), mas com a ideia que neles está contida (nós, os brasileiros, os professores e os cariocas).

 Polissíndeto
É uma figura caracterizada pela repetição enfática da conjunção aditiva “e”  Exemplo:
"Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e tomba, e se espedaça, e morre." (Olavo Bilac)

"Deus criou o sol e a lua e as estrelas. E fez o homem e deu-lhe inteligência e fê-lo chefe da natureza."


 Assíndeto
 Ausência  das conjunções coordenativas, resultando no emprego de orações coordenadas assindéticas. Exemplos:
Tens saúde, tens dinheiro, mas não tens paz de espírito.

"Vim, vi, venci." (Júlio César)

Anáfora
É figura de sintaxe  que usa a repetição  palavras ou expressões no início de várias frases, criando assim, um texto mais coerente.  

Exemplos:

“Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanta poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto da alegria e serenidade”.

(Vinícius de Moraes)


"O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem." (Manuel Bandeira)


Anadiplose
Figura  que consiste na repetição de termos já dispostos num fim de frase, ou verso, no início de uma sentença seguinte.
Veja este soneto de Gregógio de Matos Guerra. Cada palavra no final do verso inicia o verso seguinte:

Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,
É verdade, meu Deus, que hei delinquido,
Delinquido vos tenho, e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade.


Maldade, que encaminha à vaidade,
Vaidade, que todo me há vencido;
Vencido quero ver-me, e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.


Arrependido estou de coração,
De coração vos busco, dai-me os braços,
Abraços, que me rendem vossa luz.

Luz, que claro me mostra a salvação,
A salvação pretendo em tais abraços,
Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.

(GREGÓRIO DE MATTOS)


Anacoluto
Consiste na  quebra  na estrutura sintática, deixando alguns termos desligados do resto do período. Veja o exemplo:
"A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha". (Camilo Castelo Branco)
A expressão "a velha hipocrisia"  deveria exercer a função de sujeito. No entanto, isso não ocorre  e essa expressão fica à parte, não exercendo nenhuma função sintática. O sujeito é oculto (o pronome eu).
Quem se recorda?Eu.
Hipérbato
É a inversão da estrutura da frase, caracterizando a ordem indireta ou inversa dos termos. Exemplos:
“Existe um povo que a bandeira empresta. Pr'a cobrir tanta infâmia e cobardia!.” (Castro Alves)
Na ordem direta seria: Existe um povo que empresta a bandeira)

“Ouviram do Ipiranga as margem plácidas de um povo heroico  o brado retumbante”
Na ordem direta seria:
As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.

INSPER 2011 - ANACOLUTO

A volta do caderno rabugento


Não sei se vocês se lembram de quando lhes falei, acho que no ano passado, num caderninho rabugento que eu mantenho. Aliás, é um caderninho para anotações diversas, mas as únicas que consigo entender algum tempo depois são as rabugentas, pois as outras se convertem em hieróglifos indecifráveis (...), assim que fecho o caderno. Claro, é o reacionarismo próprio da idade, pois, afinal, as línguas são vivas e, se não mudassem, ainda estaríamos falando latim. Mas, por outro lado, se alguém não resistir, a confusão acaba por instalar- se e, tenho certeza, a língua se empobrece, perde recursos expressivos, torna- se cada vez menos precisa.

Quer dizer, isso acho eu, que não sou filólogo nem nada e vivo estudando nas gramáticas, para não passar vexame. Não se trata de impor a norma culta a qualquer custo, até porque, na minha opinião, está correto o enunciado que, observadas as circunstâncias do discurso, comunica com eficácia. Não é necessário seguir receituários abstrusos sobre colocação de pronomes e fazer ginásticas verbais para empregar regras semicabalísticas, que só têm como efeito emperrar o discurso. Mas há regras que nem precisam ser formuladas ou lembradas, porque são parte das exigências de clareza e precisão — e essas deviam ser observadas. Não anoto, nem tenho qualificações para isto, com a finalidade de apontar o “erro de português”, mas a má ou inadequada linguagem.

E devo confessar que fico com medo de que certas práticas deixem de ser modismo e virem novas regras, bem ao gosto dos decorebas. É o que acontece com o, com perdão da má palavra, anacolutismo que grassa entre os falantes brasileiros do português. Vejam bem, nada contra o anacoluto, que tem nome de origem grega e tudo, e pode ser uma figura de sintaxe de uso legítimo. O anacoluto ocorre, se não me trai mais uma vez a vil memória, quando um elemento da oração fica meio pendurado, sem função sintática. Há um anacoluto, por exemplo, na frase “A democracia, ela é a nossa opção”. Para que é esse “ela” aí?

Está certo que, para dar ênfase ou ritmo à fala, isso seja feito uma vez ou outra, mas como prática universal é meio enervante. De alguns anos para cá, só se fala assim, basta assistir aos noticiários e programas de entrevistas. Quase nenhum entrevistado consegue enunciar uma frase direta, na terceira pessoa — sujeito, predicado, objeto — sem dobrar esse sujeito anacoluticamente (perdão outra vez). Só se diz “o policiamento, ele tem como objetivo”, “a prevenção da dengue, ela deve começar”, “a criança, ela não pode” e assim por diante. O escritor, ele teme seriamente que daqui a pouco isso, ele vire regra. (...)

Finalmente, para não perder o costume, faço mais um réquiem para o finado “cujo”. Tenho a certeza de que, entre os muito jovens, a palavra é desconhecida e não deverá ter mais uso, dentro de talvez uma década. A gente até se acostuma a ouvir falar em espécies em extinção, mas, não sei por que, palavras em extinção me comovem mais, vai ver que é porque vivo delas. E não é consolo imaginar que o cujo e eu vamos nos defuntabilizar juntos.

(João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S. Paulo, 18/07/2010)



01.  Ao mencionar o anacoluto, João Ubaldo Ribeiro reconhece que essa figura de sintaxe pode ter “uso legítimo”.
Identifique a alternativa em que o anacoluto foi empregado como recurso expressivo.
a) “E a menina, para não passar a noite só, era melhor que fosse dormir na casa de uns vizinhos.” (Rachel de Queiroz)
b) “Eu canto um canto matinal” (Guilherme de Almeida)
c) “Da lua os claros raios rutilavam.” (Camões)
d) “Deixa lá, que ainda havemos de ser felizes os dois, com a nossa casinha e as nossas coisas.” (Almada Negreiros)
e) “A tarde talvez fosse azul, / não houvesse tantos desejos.” (Carlos Drummond de Andrade)
Comentário
Na frase de Rachel de Queiroz há clara ruptura sintática entre o termo inicial “a menina” e a sequência do enunciado, formado por uma oração principal (“era melhor”) e uma oração subordinada substantiva subjetiva (“que fosse dormir na casa de uns vizinhos”). Com isso, o termo inicial fica sem função sintática.





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