CONCURSO DO BANCO DO BRASIL 2010
Língua Portuguesa
Atenção: As questões de números 1 a 9 referem-se ao texto abaixo.
A multiplicação de desastres naturais vitimando populações inteiras é inquietante: tsunamis, terremotos, secas e inundações devastadoras, destruição da camada de ozônio, degelo das calotas polares, aumento dos oceanos, aquecimento do planeta, envenenamento de mananciais, desmatamentos, ocupação irresponsável do solo, impermeabilização abusiva nas grandes cidades. Alguns desses fenômenos não estão diretamente vinculados à conduta humana. Outros, porém, são uma consequência direta de nossas maneiras de sentir, pensar e agir.
É aqui que avulta o exemplo de Hans Jonas.
Em 1979 ele publicou O Princípio Responsabilidade. A obra mostra que as éticas tradicionais – antropocêntricas e baseadas numa concepção instrumental da tecnologia – não estavam à altura das consequências danosas do progresso tecnológico sobre as condições de vida humana na Terra e o futuro das novas gerações. Jonas propõe uma ética para a civilização tecnológica, capaz de reconhecer para a natureza um direito próprio. O filósofo detectou a propensão de nossa civilização para degenerar de maneira desmesurada, em virtude das forças econômicas e de outra índole que aceleram o curso do desenvolvimento tecnológico, subtraindo o processo de nosso controle.
Tudo se passa como se a aquisição de novas competências tecnológicas gerasse uma compulsão a seu aproveitamento industrial, de modo que a sobrevivência de nossas sociedades depende da atualização do potencial tecnológico, sendo as tecnociências suas principais forças produtivas. Funcionando de modo autônomo, essa dinâmica tende a se reproduzir coercitivamente e a se impor como único meio de resolução dos problemas sociais surgidos na esteira do desenvolvimento. O paradoxo consiste em que o progresso converte o sonho de felicidade em pesadelo apocalíptico – profecia macabra que tem hoje a figura da catástrofe ecológica. [...]
Jonas percebeu o simples: para que um "basta" derradeiro não seja imposto pela catástrofe, é preciso uma nova conscientização, que não advém do saber oficial nem da conduta privada, mas de um novo sentimento coletivo de responsabilidade e temor. Tornar-se inventivo no medo, não só reagir com a esperteza de "poupar a galinha dos ovos de ouro", mas ensaiar novos estilos de vida, comprometidos com o futuro das próximas gerações.
(Adaptado de Oswaldo Giacoia Junior. O Estado de S. Paulo, A2 Espaço Aberto, 3 de abril de 2010)
1. – antropocêntricas e baseadas numa concepção instrumental da tecnologia – (3o parágrafo)
O sentido da afirmativa acima está corretamente reproduzido, com outras palavras, em:
(A) direcionadas para o bem-estar da humanidade e determinadas pelos avanços tecnológicos.
(B) centralizadas nos avanços tecnológicos, mas preocupadas com a vida humana na Terra.
(C) voltadas para o homem e fundamentadas na tecnologia como meio de atingir determinados fins.
(D) preocupadas com a relação entre homem e natureza, atualmente imposta pela tecnologia.
(E) determinadas pelo homem e expostas às comodidades trazidas a todos pelo progresso tecnológico.
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2. A conclusão do texto propõe, em outras palavras,
(A) uma preocupação mais ampla com o emprego da tecnologia em algumas áreas do conhecimento humano, para evitar os atuais abusos.
(B) uma visão otimista centrada na resolução dos problemas oriundos do progresso tecnológico, por serem eles relativamente simples.
(C) o respeito aos inúmeros benefícios oferecidos às condições de vida moderna pelos avançados recursos decorrentes da tecnologia.
(D) uma atitude comunitária voltada para a prevenção e disposta a alterações no modo de vida na Terra para evitar a ocorrência de catástrofes ecológicas.
(E) procedimentos conjuntos entre órgãos oficiais e a sociedade civil como solução para a correta aplicação dos avanços tecnológicos.
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3. O paradoxo assinalado no 4o parágrafo se estabelece entre
(A) os direitos humanos apoiados no uso benéfico da tecnologia e as exigências impostas pela natureza, como seu próprio direito.
(B) a confiança irrestrita nos avanços tecnológicos como solução dos problemas do homem e a tendência para a destruição do ambiente natural.
(C) o desenvolvimento pleno da tecnologia e as infinitas possibilidades de seu uso na melhoria das condições de vida no planeta.
(D) o destemor diante do progresso tecnológico e a valorização de suas aplicações na vida humana.
(E) a ocorrência natural dos fenômenos climáticos habituais e a responsabilidade humana determinante para seu agravamento.
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4. Considere as afirmativas a respeito dos sinais de pontuação empregados no texto.
I. Os dois-pontos, no 1o parágrafo, introduzem enumeração de fatos que exemplificam desastres naturais.
II. Os travessões isolam, no 3o parágrafo, um comentário explicativo da expressão imediatamente anterior a esse segmento.
III. O travessão único, no final do 4o parágrafo, pode ser corretamente substituído por uma vírgula, sem alteração do sentido original.
IV. As aspas colocadas na frase do final do texto "poupar a galinha dos ovos de ouro" têm por objetivo assinalar a ideia principal do texto. Está correto o que consta APENAS em
(A) II, III e IV.
(B) II e IV.
(C) I e II.
(D) I, II e III.
(E) I, III e IV.
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5. Considerando-se a organização do texto, a afirmativa INCORRETA é:
(A) A relação de catástrofes ambientais apresentada no 1o parágrafo tem por objetivo demonstrar a impossibilidade de deter o progresso tecnológico, cujos avanços são os principais causadores desses desastres.
(B) Todo o texto se desenvolve a partir da constatação de que o modo de vida atual, voltado para o uso abusivo da tecnologia, leva o planeta a uma catástrofe ecológica.
(C) O autor toma como base os diversos desastres naturais que vêm ocorrendo em todo o planeta para discutir aspectos ligados à questão ambiental.
(D) A retomada das ideias do filósofo Hans Jonas constitui a base da argumentação necessária para que o autor do texto fundamente suas próprias ideias.
(E) O título da obra O Princípio Responsabilidade remete à necessária tomada de consciência dos homens sobre os abusos que vêm cometendo contra o meio ambiente.
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6. A ideia central do texto está explicitada em:
(A) Uso limitado dos recursos tecnológicos na vida moderna.
(B) Práticas abusivas contra o meio ambiente, apesar das tecnociências.
(C) Impotência da natureza contra os abusos decorrentes da tecnologia.
(D) Proposição de uma nova ética para a civilização tecnológica.
(E) Aceitação das inevitáveis consequências do atual progresso tecnológico.
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7. Identifica-se noção de causa no segmento:
(A) ... para que um "basta" derradeiro não seja imposto pela catástrofe ...
(B) ... comprometidos com o futuro das próximas gerações.
(C) ... sobre as condições de vida humana na Terra e o futuro das novas gerações.
(D) ... capaz de reconhecer para a natureza um direito próprio.
(E) ... em virtude das forças econômicas e de outra índole ...
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8. A concordância verbal e nominal está inteiramente correta na frase:
(A) Foram detectadas, nas análises mais recentes, a presença de partículas de poluentes prejudiciais à saúde humana.
(B) Estão havendo problemas nas negociações sobre o clima por falta de consenso entre os países participantes.
(C) Cada vez mais se tornam imprescindíveis medidas que venham a alterar o relacionamento entre o homem e a natureza.
(D) Quando entra em discussão nos países envolvidos as questões sobre responsabilidade climática, dificilmente se chega a um acordo.
(E) Chegaram-se a impasses nas negociações sobre a sustentabilidade do planeta pela impossibilidade de determinar a responsabilidade de cada país.
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9. Em 1979 ele publicou O Princípio Responsabilidade. (início do 3o parágrafo)
A frase cujo verbo exige o mesmo tipo de complemento que o grifado acima é:
(A) ... a sobrevivência de nossas sociedades depende da atualização do potencial tecnológico ...
(B) ... que não advém do saber oficial nem da conduta privada ...
(C) ... que as éticas tradicionais [...] não estavam à altura das consequências danosas do progresso tecnológico
(D) ... para degenerar de maneira desmesurada ...
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