Literatura no ENEM
Questão 1
A velha Totonha de quando em vez
batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada. (..) andava léguas e
léguas a pé, de engenho a engenho, como uma edição viva das histórias de Mil e
Uma Noites (..) era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de
prodígio. Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa,
como notas explicativas. (..) Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e
forca e adivinhações. O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local
que ela punha nos seus descritivos. (..) Os rios e as florestas por onde
andavam os seus personagens se pareciam muito com o Paraíba e a Mata do Rolo. O
seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco.
(José Lins do Rego.
Menino de engenho)
A cor local que a personagem velha Totonha colocava em suas
histórias é ilustrada, pelo autor, na seguinte passagem:
a) “O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco”.
b) “Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e
adivinhações”.
c) “Era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória
de prodígio”.
d) “Andava léguas e léguas a pé, como uma edição viva das
Mil e Uma Noites”.
e) “Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços
de prosa, como notas explicativas”.
Questão 2
Pequenos tormentos da vida
De cada lado da sala de aula, pelas janelas altas, o
azul convida os meninos,
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem vai
inventando
preguiçosamente uma história sem fim...
Sem fim é a aula: e nada acontece,
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos, pensa
Margarida, se ao menos um
avião entrasse por uma janela e saísse por outra!
(Mário Quintana.
Poesias)
Na cena retratada no texto, o sentimento do tédio
a) provoca que os meninos fiquem contando histórias.
b) leva os alunos a simularem bocejos, em protesto contra a
monotonia da aula.
c) acaba estimulando a fantasia, criando a expectativa de algum
imprevisto mágico.
d) prevalece de modo absoluto, impedindo até mesmo a
distração ou o exercício do pensamento.
e) decorre da morosidade da aula, em contraste com o movimento
acelerado das nuvens e das moscas.
Questão 3
Abatidos pelo fadinho harmonioso
e nostálgico dos desterrados, iam todos, até mesmo os brasileiros, se concentrando
e caindo em tristeza; mas, de repente, o cavaquinho de Porfiro, acompanhado
pelo violão do Firmo, romperam vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais
que os primeiros acordes da música crioula para que o sangue de toda aquela
gente despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o corpo com urtigas bravas.
E seguiram-se outras notas, e outras, cada vez mais ardentes e mais delirantes.
Já não eram dois instrumentos que soavam, eram lúbricos gemidos e suspiros
soltos em torrente, a correrem serpenteando, como cobras numa floresta
incendiada; eram ais convulsos, chorados em frenesi de amor: música feita de beijos
e soluços gostosos; carícia de fera, carícia de doer, fazendo estalar de gozo.
AZEVEDO, A. O Cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento).
No romance O Cortiço (1890), de Aluízio Azevedo, as personagens
são observadas como elementos coletivos caracterizados por condicionantes de
origem social, sexo e etnia. Na passagem transcrita, o confronto entre brasileiros
e portugueses revela prevalência do elemento brasileiro, pois
a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o de
personagens portuguesas.
b) exalta a força do cenário natural brasileiro e considera o
do português inexpressivo.
c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que cala
o fado português.
d) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à tristeza
dos portugueses.
e) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com instrumentos
musicais.
Questão 4
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência a vossa!
Todo o sentido da vida
principia a vossa porta:
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...
A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil, como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...
MEIRELLES, C.
Obra poética. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1985 (fragmento).
O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da Inconfidência,
de Cecília Meireles. Centralizada no episódio histórico da Inconfidência
Mineira, a obra, no entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a seguinte
relação entre o homem e a linguagem:
a) A força e a resistência humanas superam os danos provocados
pelo poder corrosivo das palavras.
b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu
equilíbrio vinculado ao significado das palavras.
c) O significado dos nomes não expressa de forma justa e
completa a grandeza da luta do homem pela vida.
d) Renovando o significado das palavras, o tempo permite
às gerações perpetuar seus valores e suas crenças.
e) Como produto da criatividade humana, a linguagem tem
seu alcance limitado pelas intenções e gestos.
Questão 5
O trovador
Sentimentos em mim do asperamente
dos homens das primeiras eras ...
As primaveras de sarcasmo
intermitentemente no meu coração arlequinal ...
Intermitentemente ...
Outras vezes é um doente, um frio
na minha alma doente como um longo som redondo ...
Cantabona! Cantabona!
Dlorom ...
Sou um tupi tangendo um alaúde!
ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias
completas de Mário de Andrade. Belo Horizonte: Itatiais, 2005.
Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente
na prosa e na poesia de Mário de Andrade. Em O trovador, esse aspecto é
a) abordado subliminarmente, por meio de expressões como
“coração arlequinal” que, evocando o carnaval, remete à brasilidade.
b) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos,
estudados por Mário de Andrade em suas viagens e pesquisas folclóricas.
c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como
“Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v.
7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9).
d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado),
apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago, de
Oswaldo de Andrade.
e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens
das primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes
indígenas.
Questão 6
Verbo ser
QUE VAI SER quando crescer? Vivem perguntando em redor. Que
é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os três. E sou? Tenho de mudar
quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito? Ou a gente só principia a ser
quando cresce? É terrível, ser? Dói? É bom? É triste? Ser: pronunciado tão depressa,
e cabe tantas coisas? Repito: ser, ser, ser. Er. R. Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher? Não dá para entender. Não vou ser. Não quero
ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser. Esquecer.
ANDRADE, C. D. Poesia
e prosa.Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
A inquietação existencial do autor com a autoimagem corporal
e a sua corporeidade se desdobra em questões existenciais que têm origem
a) no conflito do padrão corporal imposto contra as convicções
de ser autêntico e singular.
b) na aceitação das imposições da sociedade seguindo a influência
de outros.
c) na confiança no futuro, ofuscada pelas tradições e culturas
familiares.
d) no anseio de divulgar hábitos enraizados, negligenciados
por seus antepassados.
e) na certeza da exclusão, revelada pela indiferença de seus
pares.
Questão 7
No poema Procura da poesia, Carlos Drummond de Andrade
expressa a concepção estética de se fazer com palavras o que o escultor Michelângelo
fazia com mármore. O fragmento abaixo exemplifica essa afirmação.
(…)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(…)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
trouxeste a chave?
Carlos Drummond de
Andrade. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record 1997, p. 13-14
Esse fragmento poético ilustra o seguinte tema constante
entre autores modernistas:
a) a nostalgia do passado colonialista revisitado.
b) a preocupação com o engajamento político e social da
literatura.
c) o trabalho quase artesanal com as palavras, despertando
sentidos novos.
d) a produção de sentidos herméticos na busca da perfeição
poética.
e) a contemplação da natureza brasileira na perspectiva ufanista
da pátria.GABARITO AQUI
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