sábado, 21 de fevereiro de 2015

VIA LACTEA




Este soneto está mais para romântico do que para parnasiano.   É  essa postura eclética  de Bilac que me encanta...
Via Láctea 



"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso"! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora! "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las:
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".

Olavo Bilac

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Amor é fogo

As contradições do amor fazem dese soneto o mais famoso de Camões. Diante desses paradoxos
( contradições simultâneas) o poeta indaga, mas não obtém respostas.

Amor É Fogo Que Arde Sem Se Ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís Vaz de Camões

SONETO

SONETO


SONETO

Soneto( medida nova) é uma composição poética que segue um modelo fixo ( poema com 4 estrofes: as duas primeiras de 4 versos e as duas últimas de 3 versos. O soneto foi trazido da Itália, no século XVI ,pelo português Sá de Miranda. Até então, a maioria dos poemas era composta de redondilhas( versos de 7  ou de 5 sílabas.A maioria dos sonetos são decassílabos, isto é, versos com 10 sílabas poéticas.
As sílabas poéticas, diferentes das sílabas gramaticais, são contadas até a última sílaba tônica


sílabas poéticas:
Al/ma /mi/nha/gen/til/que/te/par/tis//
 1   2    3    4     5    6   7    8   9   10

sílabas gramaticais:


Al/ma /mi/nha/gen/til/que/te/par/tis/te
 1   2    3    4     5    6   7    8   9   10 11


Camões , Gregório de Matos Guerra, Olavo Bilac e Vinícius de Moraes  foram grandes sonetistas.

Seguem alguns sonetos

Alma minha gentil, que te partiste
                                           Luís Vaz de Camões


1-    Alma minha gentil, que te partiste
2-   Tão cedo desta vida descontente,
3-   Repousa lá no Céu eternamente,
4-   E viva eu cá na terra sempre triste.

1-   Se lá no assento etéreo, onde subiste,
2-   Memória desta vida se consente,
3-   Não te esqueças daquele amor ardente
4-   Que já nos olhos meus tão puro viste.

1-   E se vires que pode merecer-te
2-   Alguma cousa a dor que me ficou
3-   Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

1-   Roga a Deus, que teus anos encurtou,
2-   Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
3-   Quão cedo de meus olhos te levou.

Desenganos da vida, metaforicamente
Gregório de matos Guerra


1- É a vaidade, Fábio, nesta vida,
2- Rosa, que da manhã lisonjeada,
3- Púrpuras mil, com ambição dourada,
4- Airosa rompe, arrasta presumida.

1- É planta, que de abril favorecida,
2- Por mares de soberba desatada,
2- Florida galeota empavesada,
4- Sulca ufana, navega destemida.


1-É nau enfim, que em breve ligeireza
2-Com presunção de Fênix generosa,
3-Galhardias apresta, alentos preza:


1-Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa
2-De que importa, se aguarda sem defesa
3-Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?


 Ouvir estrelas
Olavo Bilac

1-   "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
2-   Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
3-   Que, para ouvi-las, muita vez desperto
4-   E abro as janelas, pálido de espanto ...

1-   E conversamos toda a noite, enquanto
2-   A via láctea, como um pálio aberto,
3-   Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
4-   Inda as procuro pelo céu deserto.

1-   Direis agora: "Tresloucado amigo!
2-   Que conversas com elas? Que sentido
3-   Tem o que dizem, quando estão contigo?"

1-   E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
2-   Pois só quem ama pode ter ouvido
3-   Capaz de ouvir e de entender estrelas."


Soneto de Fidelidade

Vinicius de Moraes


1 De tudo ao meu amor serei atento
2 Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
3 Que mesmo em face do maior encanto
4 Dele se encante mais meu pensamento.

1 Quero vivê-lo em cada vão momento
2 E em seu louvor hei de espalhar meu canto
3 E rir meu riso e derramar meu pranto
4 Ao seu pesar ou seu contentamento

1 E assim, quando mais tarde me procure
2 Quem sabe a morte, angústia de quem vive
3 Quem sabe a solidão, fim de quem ama

1 Eu possa me dizer do amor (que tive):
2 Que não seja imortal, posto que é chama
3 Mas que seja infinito enquanto dure.

BUSQUE AMOR







Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,

Vem não sei como, e dói não sei por quê.

CAMÕES





ERROS MEUS, MÁ FORTUNA, AMOR ARDENTE

Soneto autobiográfico
O soneto aborda o passado do eu-lírico e a dor  que  sente ao recordá-lo. Ele já não tem esperança na alegria de viver, sente-se iludido pelo Amor “De amor não vi senão breves enganos” (v. 12) “ Em erros meus, má fortuna”, o poeta fala do seu destino que o castiga.

O tom do poema é o lamento do poeta diante da vida e suas ilusões sobre o destino e o amor.

Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que para mim bastava o amor, somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa a que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos…
Oh! Quem tanto pudesse que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!
Luis Vaz de Camões

O ASSASSINO ERA O ESCRIBA

O assassino era o escriba Neste poema, o autor critica o uso  de ironia e duplo sentido quando se refere aos termos empregados nas...