sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

vestibular 2019



Unicamp 2019

“Acho que só devemos ler a espécie de livros que nos ferem e trespassam. Um livro tem que ser como um machado para quebrar o mar de gelo do bom senso e do senso comum."
(Adaptado de “Franz Kafka, carta a Oscar Pollak, 1904.” Disponível em https://laboratoriode sensibilidades.wordpress.com. Acessado em 28/05/2018.)

Assinale o excerto que confirma os dois textos anteriores.
a) A leitura é, fundamentalmente, processo político. Aqueles que formam leitores – professores, bibliotecários – desempenham um papel político. (Marisa Lajolo)

b) Pelo que sabemos, quando há um esforço real de igualitarização, há aumento sensível do hábito de leitura, e portanto difusão crescente das obras. (AntonioCandido)

c) Ler é abrir janelas, construir pontes que ligam o que somos com o que tantos outros imaginaram, pensaram, escreveram; ler é fazer-nos expandidos. (Gilberto Gil)

d) A leitura é uma forma servil de sonhar. Se tenho de sonhar, por que não sonhar os meus próprios sonhos?(Fernando Pessoa)

2. Há dois tipos de palavras: as proparoxítonas e o resto. As proparoxítonas são o ápice da cadeia alimentar do léxico.


As palavras mais pernósticas são sempre proparoxítonas. Para pronunciá-las, há que ter ânimo, falar com ímpeto - e, despóticas, ainda exigem acento na sílaba tônica! Sob qualquer ângulo, a proparoxítona tem mais crédito. É inequívoca a diferença entre o arruaceiro e o vândalo.
Uma coisa é estar na ponta – outra, no vértice. Ser artesão não é nada, perto de ser artífice.
Legal ser eleito Papa, mas bom mesmo é ser Pontífice.
(Adaptado de Eduardo Affonso, “Há dois tipos de palavras: as proparoxítonas e o resto”. Disponível em www.facebook.com/eduardo22affonso/.)

Segundo o texto, as proparoxítonas são palavras que
a) garantem sua pronúncia graças à exigência de uma sílaba tônica.
b) conferem nobreza ao léxico da língua graças à facilidade de sua pronúncia.
c) revelam mais prestígio em função de seu pouco uso e de sua dupla acentuação.
d) exibem sempre sua prepotência, além de imporem a obrigatoriedade da acentuação.



3. Na década de 1950, quando iniciava seu governo, Juscelino Kubitschek prometeu “50 anos em 5”. Na campanha do atual governo o slogan ficou assim: “O Brasil voltou, 20 anos em dois”. A ‘tradução’ não tinha como dar certo; era como comparar vinho com água. E mais: havia uma vírgula no meio do caminho. Na propaganda, apenas uma vírgula impede que a leitura, ao invés de ser positiva e associada ao progressismo de Juscelino, se transforme numa mensagem de retrocesso: o Brasil de fato ‘voltou’ muito nesses últimos dois anos; para trás.
(Adaptado de Lilia Schwarcz, Havia uma vírgula no meio do caminho. Nexo Jornal, 21/05/2018.)
Considerando o gênero propaganda institucional e o paralelo histórico traçado pela autora, é  correto afirmar que o slogan do atual governo fracassou porque

a) o uso da vírgula provocou uma leitura negativa do trecho que alude ao slogan da década de 1950.
b) a mensagem projetada pelo slogan anterior era mais clara, direta, e não exigia o uso da vírgula.
c) a alusão ao slogan anterior afasta o público jovem e provoca a perda de seu poder persuasivo.
d) o duplo sentido do verbo “voltar” gerou uma mensagem que se afasta daquela projetada pelo slogan anterior.


UNESP 2019
1. 

2. 
Leia o trecho do romance S. Bernardo, de Graciliano
Ramos, para responder às questões de 02 a 07.
O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em casa do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma limpeza. Essa gente quase nunca morre direito. Uns são levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam-se.
Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra ,bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o último teve angina e a mulher enforcou-se.
Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, proibi a aguardente.
Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que não preciso descrevê-la. As partes principais apareceram ou aparecerão; o resto é dispensável e apenas pode interessar aos arquitetos, homens que provavelmente não lerão isto.
Ficou tudo confortável e bonito. Naturalmente deixei de dormir em rede. Comprei móveis e diversos objetos que entrei a utilizar com receio, outros que ainda hoje não utilizo, porque não sei para que servem.
Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o mundo dá um bando de voltas.
Ninguém imaginará que, topando os obstáculos mencionados, eu haja procedido invariavelmente com segurança e percorrido, sem me deter, caminhos certos. Não senhor, não procedi nem percorri. Tive abatimentos, desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas. Acham que andei mal? A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. E como sempre tive a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las.
Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus. Vieram-me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princípio se esquivava, agarrou-se comigo, as taxas desceram. E os negócios desdobraram-se automaticamente. Automaticamente. Difícil? Nada! Se eles entram nos trilhos, rodam que é uma beleza. Se não entram, cruzem os braços. Mas se virem que estão de sorte, metam o pau: as tolices que praticarem viram sabedoria. Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem. Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca – e engolem tudo.
Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tentativas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes.
Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no tempo de Salustiano Padilha. Houve reclamações.
– Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, paciência, vá à justiça.
Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralítico de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando Direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz.
Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas de João Nogueira.
Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos que me censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe político local. Em consequência mordeume cem mil-réis.
(S. Bernardo, 1996.)
2. No trecho, o narrador revela-se uma pessoa
a) empreendedora e solidária.
b) invejosa e hesitante.
c) obstinada e compassiva.
d) egoísta e violenta.
e) preguiçosa e traiçoeira..


3.
O conhecido preceito “os fins justificam os meios” pode ser aplicado ao trecho:
a) “E como sempre tive a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las.” (6o parágrafo)
b) “Comprei móveis e diversos objetos que entrei a utilizar com receio, outros que ainda hoje não utilizo, porque não sei para que servem.” (4o parágrafo)
c) “Essa gente quase nunca morre direito. Uns são levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam-se.” (1o parágrafo)
d) “Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o último teve angina e a mulher enforcou-se.” (2o parágrafo)
e) “Vieram-me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princípio se esquivava, agarrou-se comigo, as taxas desceram.” (7o parágrafo)


4. 
“Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra, bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o último teve angina e a mulher enforcou-se.” (2o parágrafo)
Os pronomes sublinhados referem-se, respectivamente, a
a) “alavanca”, “um”, “viúva e órfãos”.
b) “pedra”, “um”, “meninos”.
c) “pedra”, “alavanca”, “viúva e órfãos”.
d) “alavanca”, “pedra”, “viúva e órfãos”.
e) “alavanca”, “pedra”, “meninos”.


5.
O narrador emprega expressão própria da modalidade
Oral da linguagem em:
a) “Se eles entram nos trilhos, rodam que é uma beleza.” (7o parágrafo)
b) “Naturalmente deixei de dormir em rede.” (4o parágrafo)
c) “A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus.” (6o parágrafo)
d) “E os negócios desdobraram-se automaticamente.” (7o parágrafo)
e) “Julgo que não preciso descrevê-la.” (4o parágrafo)


6.
Verifica-se o emprego de verbo no modo imperativo no trecho:
a) “Se eles entram nos trilhos, rodam que é uma beleza.
Se não entram, cruzem os braços.” (7o parágrafo)
b) “Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto.” (10o parágrafo)
c) “Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, proibi a aguardente.” (3o parágrafo)
d) “Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o mundo dá um bando de voltas.” (5o parágrafo)
e) “Não senhor, não procedi nem percorri. Tive abatimentos, desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas.” (6o parágrafo)


7.
 “Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem.” (7o parágrafo)
Considerada no atual contexto histórico, essa fala do narrador pode ser vista como uma crítica à ideia de
a) trabalho.
b) meritocracia.
c) burocracia.
d) preguiça.
e) pobreza.

GABARITO

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